quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

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Contos e Poesias das "Crônicas de Ravok" (2013)

 

POEMAS 

Panorama do Mundo Contemporâneo 

Olhe pro mundo,

Veja o que mais existe nele.

Gente imoral,

Gente que mata,

Gente que morre.

Filhos desobedientes,

Juventude depravada.

Desunião de lares,

Guerras, crimes,

Prostituição,

Ódio por toda parte.

É possível a paz mundial?

Se todos dizem que creem em Deus,

Em Deus acreditassem mesmo o mundo

Seria como é?

Não, não seria assim.

Talvez não fosse melhor do que é,

Porém pior do que é não seria,

E isso é o nosso osso duro de cada dia. 

 

Carta a Gibran Khalil Gibran 

Gibran Khalil Gibran,

Sábio mestre do oriente;

Que na sua sabedoria abrangeu todo

Ocidente.

Ser reformado,

Ser transtornado e justo,

De visão imensa e de plena consciência.

 

Gibran Kahlil Gibran

Vós com vossa sabedoria,

Vós com sua justiça ligada a

Sua amotinação lembra-me

O rabi dos rabis

O filho da terra

O filho de Deus

 

Gibran Kahlil Gibran

Vossas palavras saciam minha sede de justiça,

De conhecimento,

De sabedoria;

Vós guiais,

Guia-me como o pastor que guia suas ovelhas a pastos férteis e tenros.

 

 

Gibran Kahlil Gibran

És juntamente com o Cristo

O meu guia,

O meu mestre,

Amigo e conselheiro;

Lendo suas palavras, ouço sua voz,

Sinto seu espírito ao meu lado. 

 

Você tem certeza de que sabe amar? 

Tão raro quanto amar e certamente bem mais difícil,

É saber amar.

Todas as penas do amor se instalam em funções

Desse quaternário:

Um deve amar

O outro e vê corresponder

O primeiro deve saber amar

O parceiro também

Só quando essa relação se estabelece há felicidade no amor

Só quando os quatro pontos se integram a alegria de uma relação é possível.

Há os que:

Amam loucamente, mas não sabem amar.

Amam pouco, mas sabem amar.

Não amam, mas sabem amar.

Amam e sabem amar.

E por aí começa a confusão da seleção amorosa.

Quando duas pessoas se aproximam e percebem que se amam, é aí que tudo começa.

O raro é ambas saberem amar, quando a maturidade não interfere na intensidade.

Amar quase sempre atrapalha a sabedoria do amor.

Porque o estado de amar é um estado de necessidade atendida, de carência compensada, de doação exercida, de entrega salvadora.

E isso é intenso de mais para coexistir com a sabedoria do amor.

Quanta gente prefere viver com alguém que sabe amar, mesmo que não a ame.

Quanto amor brota duma relação onde ambos sabem amar!

Quem ama é mais inocente do que quem sabe amar. 


Jovem moderno

Jovem inseguro,

Jovem fraco,

Que com toda rebeldia,

Com toda sua valentia,

Facilmente cai,

Cai na terra,

Como uma folha de árvore,

Com toda a sua valentia e rebeldia.

Jovem machucado,

Traumatizado, revoltado,

Jovem corrompido.

Jovem que é usado,

Jovem viciado.

Para falar, para viver,

Jovem oprimido e rechaçado,

Sofrido.

Adulto que quer que o jovem obedeça

O jovem acha que deve fazer

Ó meu Deus

O que esse jovem deve fazer pra essa

Vida feliz tentar viver.

A vida é um momento no espaço,

No qual temos plena consciência.

Vivemos no tempo e este

Vive em todos nós.

Sonhamos, sorrimos, lacrimejamos.

O sonho é o desejo de nosso Eu Maior

De elevar-se e de transformar em realidade

Tudo aquilo que em sonho

Tanto deleite nos proporcionou.

Cada sorriso é a satisfação demonstrada,

Declarada por termos traduzido para a

Realidade tudo o que em sonho foi sonhado.

Cada lágrima representa o sonho frustrado,

O sonho que não foi realizado.

Se pudéssemos esquecer o tempo

E não sonhar em construir o futuro

Despreocupados viveríamos o presente.

Sonhos, utopia, fantasias

Vida que em sonho tu sonhaste

Que fosse de extrema alegria se

Transformara em triste agonia?

O prazer que possuis é passageiro

Prepara-te para a tempestade que estás por vir;

Saboreie os momentos de paz

Que tu sejas, ó jovem, abençoado

Pela onipotente divindade

Pela magnânima força cósmica que a tudo rege

Que chamamos de Deus.


Amor (I)

 

Todos falam sobre o amor

Poucos conseguem senti-lo

Tal como a morte e os ideais

O amor incita o ser humano à eloquência

Tal belo quanto amar alguém

É amar a si próprio.

 

 

Amor (II)

 

Um pássaro pode voar alto

Meu coração voa mais alto

Meus sonhos alcançam o infinito

O amor é meu sustento.  

 

 

A Prisão 

A maior e mais triste das prisões não tem muros

A maioria das pessoas não sabe que vive nela

Nascem e morrem sem se libertarem

Suas vidas são tristes e sofridas

Suas vidas não têm sentido

Passei anos procurando a chave da minha cela

Muitos detentos me disseram qual era a chave

Ainda bem que eu não acreditei

 

Riqueza não é a chave

Droga não é a chave

Bebida não é a chave

Luxúria não é a chave

 

 

Não encontrava a chave

Porque não sabia qual era a prisão

A prisão é o mundo e a chave está dentro de mim

Minha vida na é mais triste e sofrida

Minha vida já tem sentido

E Deus me mostrou as grades da minha prisão

Seu poder me fez despertar e aceitar Seu amor

Ele me mostrou a chave da minha libertação

 

A chave é Jesus, meu Salvador

A chave é confiar no Seu amor

A chave é minha entrega ao Senhor

A chave é adorar meu Criador.


CONTOS 

Descoberta 

            Primeiro, a dor. Uma dor imensa, vinda não sei de onde, tudo ao meu redor se contorce, sendo eu expulso do lugar onde eu estava tão feliz. Começa uma jornada.

            A escuridão é completa. À medida que desço, ela me envolve mais e mais. Não escuto nada.       

            O que está havendo?

            Estou ficando desesperado. Não mereço o que está acontecendo. Antes, havia a satisfação, meus dias eram iguais... Havia fartura, a ausência da necessidade de qualquer coisa. Eu era feliz porque era amado.

            Eu choro sem emitir som. O túnel avança e parece não ter fim. Debato-me inutilmente.

            Uma parada brusca. Sufocado, tento abrir os olhos, mesmo sabendo que não há nada para enxergar. Não me recordo de uma época anterior a da felicidade. De algum outro lugar onde eu tenha estado. Tento me adaptar as novas sensações que me afligem neste instante. Após uma agonia cuja duração eu não sei precisar, eu vejo uma luz. Essa luz parece ser a esperança, o fim da dor. Procuro ir até ela, sendo que as contrações das paredes ao meu redor me ajudam a prosseguir. O medo do que me espera após a luz é completamente ignorado. Tudo o que me interessa é sair daqui. Há medo sim, de eu morrer enquanto estou aqui, lutando pela vida. Mas eu sou um milagre de Deus. Sobreviver é meu direito. Minha vitória.

            Quando eu finalmente saio, a luz fere meus olhos. Agora eu os mantenho fechados por causa dela e choro muito. Nunca imaginei que isso era o desamparo, a solidão. Os sons me incomodam. Sou agredido por mãos ásperas que me erguem. Após tanta tortura, sou finalmente deixado em paz depois de ser limpo pelas mãos ásperas.

            Esse mundo novo e estranho está começando a ficar confortável. A esperança de que seja um mundo melhor do que o local de que fui expulso me acalenta.

            Rio de Janeiro, 3 de abril de 1973. Nasci há aproximadamente trinta minutos.

 

 

A Soberana das Fadas 

            Ela tinha 25 anos recém-completos. Chovia na cidade e a solidão que somente uma filha única pode sentir apertava seu coração. Era uma solidão ainda mais amarga, pois trazia lembranças de culpas passadas.

            Seu nome é Jose dos Santos Oliveira. Quando tinha 17 anos, não prestou o Vestibular porque não sabia que carreira escolher. Quando finalmente se decidiu, descobriu que não estava em condições de competir com os jovens de classe média. As horas extras que eram forçadas a fazer pelo chefe tornavam seu tempo para estudar mais curto. O sonho do curso superior foi se tornando mais difícil.

            Ela aprendeu que na vida real não bastava ser boa profissional. Tinha que fingir ser outra pessoa, para não desagradar as pessoas a sua volta e que precisava agradar ao chefe. Ela, masoquistamente, continua remoer o passado: os homens que abusaram dela, os amores que terminaram em decepção.

            O Natal está chegando. Ao invés de mandar e-mails ou cartões de papel, prefere procurar as amizades do passado pelo telefone, mendigando um pouco de carinho. Um pouco de alegria lhe vem disso.

            Um dia, ela aprendeu algo que faz qualquer sofrimento valer a pena. Humilhe-se somente perante Deus, não aos homens. 

 

A Flor de Shelley 

            Eu não sei por que o poeta Percy Byshe Shelley não gostava de mim. Nunca fui grande como ele. Sua mulher Mary escreveu uma história muito famosa, sobre um homem que tentou ser Deus e foi castigado por isso, além de falar de solidão: Frankenstein.

            Ele me jogava suas frases de efeito e aforismos bem na cara, para me irritar. Ele era um ultrarromântico: falava de amantes que morriam sem consumar o amor, de decepção, de tédio, de descrença.

            Certa vez ele me falou acerca da inutilidade da vida, da falta de sentido presente em tudo: “A flor que hoje sorri amanhã morre".

            Pensei em minha amada Beatrice, na dor que seria perdê-la. Nada respondi, mas Shelley conseguiu o que queria. Ele deve ter percebido que me aborreceu, pois repetia a frase sempre que podia. Acho que ele tinha ciúmes de Mary e eu, embora não fôssemos íntimos. Ela era quieta e falava pouco, mas seus olhos e sorriso denunciavam sua esperteza e percepção apurada das coisas.

            Quando soube que pedi Beatrice em casamento, Shelley veio novamente me perseguir com sua frase de efeito. Seus olhos e sua malícia finalmente me fizeram perder o controle. Gritei para ele, surpreendendo a mim mesmo:

─ É o principal motivo para que eu ame a flor; se ela não é eterna, se sua beleza e alegria não são eternas, preciso cheirá-la, tocá-la, senti-la e amá-la hoje, antes que desapareça!

            Todos na taverna me olharam. Lentamente, voltaram as suas conversas. Shelley ficou tão surpreso com a minha reação e com as minhas palavras que foi embora e nunca mais me provocou.

            Anos mais tarde, ele publicou a frase que eu tanto odiava num livro, imortalizando-a para as futuras gerações de levianos e deprimidos que surgirão após nossa partida deste mundo. Eu e minha obra fomos esquecidos. A minha resposta ninguém copiou, ninguém se lembrou e ninguém publicou.


                                                            Minha Filha

Um aviso a você antes de continuar a ler isso: estou idoso e morrendo.

Se me perguntarem qual é a coisa (ou lembrança ou lugar) capaz de me fazerem mover montanhas, enfrentar exércitos, enfrentar a mim mesmo (o que é muito mais difícil que enfrentar um exército), eu diria que é pensar em minha filha.

Pensamos na mulher amada quando somos jovens.

Agora que o calor da paixão se atenuou, que as fantasias juvenis sobre a mulher ideal parecem ridículas, que minha amada esposa se ressente da velhice que avança e me pede o que eu (e nenhum outro ser humano) sou capaz de dar, eu volto minhas fantasias para meu rebento, minha Estrelinha, meu Raio de Sol.

Minha Diana.

A lembrança mais doce que eu guardo da infância dela foi a primeira vez que jogamos bola na praia.

Seu riso ainda soa em meus ouvidos após tantos anos. Me realizei quando ouvi pela primeira vez: “Papai”.

Naquele dia, essa palavra possuía um timbre mais melodioso.

Quando ela cresceu um pouco, tentei fazê-la amar aos livros tanto quanto eu amo.

Ela preferiu os esportes e tentou fazer um book para entregar numa agência de modelos. Não escondi meu desa-pontamento, por isso ele foi embora rápido.

O que eu perdoei foi ela fazer drama quando a proibi de morar com um irresponsável chamado Renato. Ela era menor de idade, então fiquei firme por uma semana. Greve de fome, depressão, todas as chantagens possíveis Diana tentou.

Fiquei firme por um mês. A mãe dela cedeu primeiro e ameaçou pedir o divórcio. Aí, escolhi ceder.

Um mês depois de se mudar, Diana voltou para casa arrependida e sem estar grávida. Parecia que tínhamos ganhado na loteria! Que festa!

Após a faculdade de Direito, ela passou num concurso público e foi empossada num bom cargo. Eu e minha mulher ficamos tranquilos.

Quando eu fiz 56 anos ela queria que eu parasse de dirigir, mas ela voltou atrás porque sabe o quanto eu gosto. Os momentos que passamos mexendo no meu carro ou no dela eu não troco. Ela se suja toda e ri feito aquela menininha na praia. Nunca lhe ensinei mecânica, ela parece que nasceu sabendo.

Como eu amo minha menininha.

Ela me ajudou a salvar meu casamento tempos depois. Para comemorar, fomos viajar. Foi aí que Diana me ensinou a pescar.

Hoje estou numa cama de hospital, sem me lembrar de quem sou a maior parte do dia. Estou com 76 anos e Diana com 44. A mãe dela chora tanto que acho que vai nos afogar.

Engraçado, nunca me esqueço da Diana, que sempre faz piadas para me animar. Maldito Mal de Alzheimer.

Quando estou prestes a fechar os olhos pela última vez, não vejo uma lágrima sequer no rosto dela.

Eu sei que está guardando para depois que eu partir. Ela quer me alegrar até o último segundo.

Que vida boa eu tive.

Que morte doce: assistido por quem me ama. 

 

Sobre mim: 

ferreirasdi@yahoo.com.br

https://linktr.ee/SidneyFerreira

 

Natural do Rio de Janeiro, nascido em 1973.

Principais influências: Kahlil Gibran, Alan Moore, Neil Gaiman, Warren Ellis, Frank Miller, John Byrne, Chris Claremont, Grant Morrison, Herman Hesse, Stephen King.

Professor de História formado pela UNIRIO.

 

Livros publicados:

 

As Crônicas de Ravok (2013)

Beholder (2013)

As Deusas do Sexo e da Guerra (2015)

As Aventuras de Yakir (2019)

Yakir e os Apóstolos de Cristo (2021)

As Crônicas de Baphomet (2021)

Yakir e a História do Brasil (2021)

Bussundas, Bestializados e Fascistas (2023)

 

Publicados na editora virtual : www.clubedeautores.com.br